quarta-feira, 13 de abril de 2016

196 REFLEXÃO





                                           196              REFLEXÃO


É deveras impressionante como os tempos impõem modificações nos hábitos e costumes das pessoas, contribuindo para transformar e, por vezes, aprimorar o relacionamento entre jovens e adultos, notadamente, à proporção em que no dia a dia os fatos vão ocorrendo alheios às nossas pretensões. Tudo se modifica ao mesmo tempo em que nos transformamos também, à mercê de comportamentos indiferentes aos princípios de nossa origem de vida, tais como nos foram legados por nossos ancestrais. É como se tudo precisasse ser mudado e uma atualização se fizesse necessária em nossa existência. Só que, entendo serem estas atualizações procedidas de maneira um tanto precipitada.
Não atentamos para determinadas atitudes ousadas no tratamento que dispensamos aos nossos semelhantes de idades mais avançadas. As pessoas mais idosas perdem gradativamente o direito de serem respeitadas como tais. A juventude não tem sido preparada por seus superiores para conservar o respeito e a obediência a quem de direito. As coisas, em geral, não são mais como antigamente, sofrem estranhas modificações.
Será que tudo o que acontece é para melhorar a vida da gente? A modernização que se opera em nosso cotidiano será mesmo um corretivo ou estímulo para aperfeiçoar os atuais usos e costumes?  Tudo mesmo?
Certo é que há uma enorme diferença entre a atualidade e o passado.  Estamos completamente diferentes de outrora, na maneira de vestir, na forma de como nos comunicar com o próximo, em como conquistar amizades e saber conservá-las e, como já fiz referência acima, dispensar o respeito e admiração aos nossos concidadãos que alcançaram a honrosa terceira idade com sacrifício, com luta e com amor.  Alias, dizia-me um amigo, “ficar velho até que é muito bom, difícil mesmo é ser velho”. Todos nós sonhamos e almejamos viver bastante, assistir o nascimento e crescimento de filhos, netos, bisnetos e mais aderentes na plenitude de nossa saúde e bem estar. Mas “caducar” não, só se for no sentido de brincar, acariciar e bajular os descendentes.
Entre os doze e vinte anos de idade, no ápice da adolescência, experimentei uma fase de acentuada timidez, ao ponto de me tornar portador de enorme complexo de inferioridade. Tudo era belo e valioso ao meu redor, menos eu próprio. Todos mereciam afeição, admiração, cobiça pessoal, menos eu. Custei a superar certos preconceitos, enfim consegui quase totalmente, graças a repetidos acontecimentos merecedores de uma melhor análise e reflexão. Os tempos se encarregaram, realmente, de nos transformar a SUA maneira.
Lentamente fui amadurecendo e enriquecendo meus propósitos de vida, alterando anseios e pretensões pessoais. Começava a surgir uma nova perspectiva e razão de ser. Comecei a aprender com os próprios erros cometidos ao longo da existência adquirida. E como aprendi?
Recentemente, por telefone, conversava com uma de minhas melhores amigas, daquele saudoso e longínquo passado e lembrava que a nossa amizade fora imensa, altamente saudável e autêntica” e acrescentava: Só não fomos namorados porque eu achava que você não me queria, ao que ela respondeu:  Porque é que você achava assim?
Ora, diante de minha timidez e como nos comportávamos na ocasião, era assim que as coisas aconteciam. Faltava iniciativa entre os dois e mais que isto, receio, medo de levar “uma mala”, como se costumva dizer.
Quem sabe se um grande amor não existia entre nós e o temor e falta de coragem não o deixaram vingar?
Não teria sido melhor se tivesse havido ousadia e não timidez entre ambos? Bem que é possível. Reflitamos!
DEUS o sabe e é por sua vontade permissivel que o tempo se encarrega de tudo.
Tudo passa sobre a Terra – disse José de Alencar.


João Bitu                                          

segunda-feira, 11 de abril de 2016

195 O SÍTIO CARNAÚBAS




                         195        O SÍTIO CARNAÚBAS

É um pedaço de chão fértil, produtivo e saudável, situado no Município de Várzea-Alegre, a encosta do Riacho do Machado, vertiginosamente belo e utilíssimo pela enorme riqueza das águas correntes que banham as margens verdejantes, quando das enchentes transbordantes durante o período chuvoso.  É de uma riqueza imensurável que presenteia seus habitantes com muita alegria e felicidade em razão da farta produção agrícola e da pastagem abundante que alimenta os animais ali existentes.
Aquele sítio fica situado entre as Lagoas e Juazeirinho no sentido Várzea-Alegre/Canindézinho, próximo à Estrada Velha e Jatobá, onde tremulava a folhagem dos famosos pés de Juazeiro, em número de quatro, com sombra convidativa para os transeuntes costumeiros que lá descansavam de suas caminhadas.
Nas Carnaúbas, pois, foi onde POMPILIO VELHO testemunhou o meu nascimento que originou o surgimento de uma prole bem sucedida e estimada que veio a se chamar: “A BITUZADA”, por determinado poeta em inspirada ocasião.
ZÉ BITU – seu líder abençoado - era um homem de muita inteligência e sabedoria e até certo ponto um tanto introvertido, não se ligando ao “disse me disse” que de qualquer esquina par-
tia, limitando-se ao repente habitual que lhe era instintivamente comum, que exteriorizava na ocasião e local adequados.
Ao seu lado, Dona Vicentina, a companheira virtuosa e dinâmica, vigiava com rara competência a criação dos filhos a quem juntos davam educação a mais completa e primordial, incutindo neles com muito amor os princípios necessários ao dia de amanhã.  Eram os dois exemplos da mais perfeita grandeza e harmonia diante da prole constituída.
Dona Vicentina tinha uma irmã chamada ZUCA, que nasceu na FURQUILA, uma moça muito dócil, bonita e prendada que foi morar conosco nas CARNAÚBAS, onde nos fez companhia por longos anos, até que contraiu núpcias com EURICO DUARTE e foi morar em sua própria casa e, posteriormente, migraram rumo a SÃO PAULO e a outros lugares adjacentes, nos quais permanecem até hoje os seus descendentes.
Além deles, ali residiam os meus Tios Nonõe, Isa e Afonso Bitu descendentes de JOÃO ALVES FEITOSA BITU, daquela gente que teve sua origem junto à enorme ramificação que habitava no Sanharol, oriunda dos sertões de Inhamuns.
Antonio Alves Bitu, meu estimado Padrinho Nonõe, era um fumante inveterado, tinha sempre seu cigarro de palha colocado  atrás da orelha quando não estava tragando, vício que terminou  por leva-lo precocemente à sepultura.
Tia Isa – santa criatura – casada com Chico Chicô, morava  num chalé muito bem acabado junto ao famoso Coaçu que sombreava o passadiço e a cancela da manga dos BITUs.  perto do   Jaburu, paraíso agrícola do CEL.ZÉ VITORINO, cidadão  muito rico da região.  Era muito religiosa e asseada, razão porque era alvo de nossa mais sublime simpatia.
Afonso Bitu – o caçula daquela geração em vida  –  entre os quatro, era o mais sacrificado economicamente, vítima ainda de uma viuvez inesperada tendo que assumir a criação de  quatro
filhos pequenos e sem recursos, coitado.
Esta era a família Bitu que ocupava o nosso querido Sítio Carnaúbas ainda hoje estimado  e  que jamais será esquecido em seus mais íntimos pormenores.
Como morador ainda daquela doce localidade, ocupando um tosco casebre de taipa e vivendo na mais absoluta pobreza, carregado de filhos, só ele e DEUS para cria-los, residia meu saudoso amigo, professor e poeta, a quem devo muito do pouco que consegui aprender no âmbito da poesia.
Daria muito para voltar a vivenciar com aquela gente maravilhosa e saudável do adorável rincão onde fui feliz um dia.
Com muita saudade firmo aqui minha despedida sincera.
Adeus terras de meu coração, que DEUS as conserve em toda sua
magnitude. Um caloroso abraço gente de saudosa memória


Que saudades daquela infância de glórias
Quando e onde estas coisas se passaram
E outros tantos fatos ocorreram
Suscitando esta singela história
Que pra sempre guardarei na memória.
Personagens e firmas verdadeiros
Dos primeiros até aos derradeiros
De que falo com toda sinceridade
Com orgulho e muita propriedade
Como são hábitos meus costumeiros!!.

João Bitu






                              


domingo, 10 de abril de 2016

194 O PILÃO




        194     O PILÃO

Em nossa residência no sítio Carnaúbas, de doce e inesquecível lembrança, havia bem ao centro da cozinha, milimetricamente fincado ao solo e de forma equidistante às quatro paredes de tijolo de adobe, um possante pilão de madeira adaptado de um tronco de árvore milenar, possivelmente de aroeira ou similar com a cavidade no miolo em forma de bacia.
A dita árvore, extraída convenientemente dentre outras tantas existentes no alto matagal das terras do Jaburu, no precioso sertão varzealegrense, transformou-se em utensílio doméstico de comprovada utilidade e resistiu por várias décadas, sucumbindo tão somente junto à demolição do casarão.
Era usado por mãos fortes e bem treinadas.
Semanalmente, as filhas de Pinino, falecido esposo de Antônia, Nazaré e Mundinha vinham da Lagoa de Dentro pilar arroz para o consumo de algumas semanas.  Essas três máquinas, de forma conjunta e numa cadência impressionante. Não havia naquela época as atuais máquinas de pilar contudo, elas faziam as vezes com absoluta precisão. Era tão preciso e eficiente o serviço que ao chegar ao término da operação, elas peneiravam o produto e dalí escapava apenas alguns caroços em casca que eram chamados “ESCOLHAS”, por elas mesmas cuidadosamente separadas e eliminadas.
Em verdade era um serviço ao qual se podia considerar “braçal”, mesmo assim, e o   mais curioso, é que a remuneração não excedia a uns míseros trocados, senão, uma rapadura e uns punhados de farinha. O suficiente mesmo era a “bóia”.
Tudo passou. As bravas meninas, acredito, já não existem mais, tenho minhas dúvidas, porquanto, há muitos anos estou afastado daquelas plagas que foram berço de minha saudável juventude e de lá quase não tenho notícias. Restam muitas saudades e doe-me a certeza de que poucas, muito poucas pessoas sobreviveram para comprovar as minhas lembranças.
Escrevo estas recordações para não deixar que tudo se vá com o tempo, como também, em busca de algum leitor que possa estar ao meu lado e compartilhar meus sentimentos.
Então, assim sendo, adeus meninas do pilão, adeus casarão, adeus restos daquele tronco de aroeira e da capoeira, onde nasceu, cresceu e emprestou utilidades em outras áreas diversas.

João Bitu





                              

segunda-feira, 4 de abril de 2016

193 MADALENA DE PININO




193                   MADALENA DE PININO



“Cleidinha, o seu Padrinho e Irmão Joãozinho ama muito você”.  Desde o venturoso vinte e quatro de junho, quando chegou àquele casarão nas Carnaúbas, bonito que só ele, e situado bem ao lado do Riacho do Machado, uma visita ansiosamente esperada pelo casal que ali habitava. Existia bem em frente a ele uma linda árvore chamada Pau Mocó que o tempo desfolhou e anos depois destruiu.
Os trabalhadores daquela vizinhança usavam a maravilhosa e convidativa sombra para afiar e amolar as ferramentas de trabalho tais como: enxada, foice, e outras tantas, prática muito comum, embora causasse enorme barulho.
Mas naquele dia houve silêncio em respeito ao surgimento da linda menininha que acabava de chegar ao lar dos BITU's . Houve barulho sim, mas festivo. Um festejo lindo e maravilhoso que saltitou bem dentro dos corações de Compadre Zé Bitu e de Comadre Vicentina e assim também  de seus outros  irmãozinhos  mais velhos. Como havia alegria naquele bendito lar!
Foi então que Joãozinho teve a incumbência de nos levar a tão grata notícia que em verdade merecíamos desde que muito ligados à família desde anos e mais anos.
Lembro-me que, montado em um animal de sela, bem no topo da ladeira que se aproximava
de nossa casinha,  gritou freneticamente;  “ Madalena nasceu uma menina  muito bonita, mas
pretinha como o fundo de uma panela de barro”.
Esta comparação, por demais exagerada, era por conta de seu grande contenta-
mento, pode-se concluir.
Em verdade, Madalena de Pinino foi de enorme importância em meio a nossa
familia, tanto como pessoa quanto como serviçal, porquanto foi nossa lavandeira ao
longo de muitos e muitos anos afinco, cobrando naquela época a irrisória quantia de “um tos-
tão” por peça que lavava.  Dona Vicentina fornecia o “SABÃO DA TERRA” magistralmente  fa-
bricado por ela mesma e a respeitável  Senhora concluia  a operação com sua mão de obra e
a água branco-azulada da Lagoa de Dentro, local onde tinha sua residência. Tinha também
aos nossos serviços as filhas Antônia, Nazareth  e Mundinha como pisadeiras  de arroz.  Resta
ainda reconhecer com  justiça o seu alto senso de responsabilidade, carinho e afeto para conosco.
Cleidinha, assim tudo aconteceu, lembro com a mais absoluta clareza, que DEUS lhe abençoe!

João Bitu

















                             


sexta-feira, 1 de abril de 2016

192 QUEM ME DERA ELE VOLTASSE

QUEM ME DERA ELE VOLTASSE!


JOSÉ ALVES BITU nasceu no sítio CARNAÚBAS em 1906, no município de Várzea-Alegre.  o  terceiro  dos  seis  filhos de JOÃO ALVES FEITOSA BITU  e  Dona EUFRÁSIA  (Frasinha) como era conhecida carinhosamente naquelas cercanias do  Riacho do Machado.
Exceto Expedito, que faleceu ainda muito jovem, conheci os demais, a saber: Nonõe, Iza, Teresinha, Afonso e Expedito.  Ele, ZÉ BITU, logo bem cedo, fez ver sua inteligência, sabedoria, desenvoltura e aptidão em torno de assuntos concernentes aos rumos da família, mostrando um alto espírito de liderança e bom senso.
Como agricultor e pequeno criador, foi acumulando aos poucos, uma relativa estabilidade econômica, graças naturalmente ao fato de não ser portador de qualquer vício como alcoolismo, tabagismo ou outros costumes desaconselháveis e dispendiosos, alem de nocivos à saúde. Não recebeu, necessariamente, uma assistência escolar total dada a inexistência de meios na localidade naqueles tempos, entretanto, soube aproveitar, desenvolver e até ampliar o que lhe foi ensinado nas escolinhas de base. Tudo era escasso e bem mais difícil ou quase impossível.
Por algum tempo, esteve acontecendo na cidade, oportunidade em que foi coroinha na Igreja de São Raimundo Nonato, sob os auspícios e comando de Padre Lima, vigário da comarca, com absoluto apego aos caminhos religiosos. Todavia, por vontade pessoal, optou por deixar a batina não muito tempo depois.
Conheceu para felicidade sua e de nós outros, no sítio FORQUILHA que não distava muito das Carnaúbas, senão poucos quilômetros, a linda senhorita VICENTINA de invejável beleza física e altos predicados domésticas, neta afortunada da Velha Chicô Pereira, bem muito conceituada e esperta nos negócios a que se dedicava. Foram felizes, muito felizes por 53 anos tempo que durou o seu matrimônio, gerando o nascimento de 13 filhos. Coisas de DEUS!
ZÉ BITU ao final da década de quarenta radicou-se na cidade. Comprou um pequeno estabelecimento comercial num prédio que já era de sua propriedade, situado à Rua Major Joaquim Alves, esquina com a entrada para a Praça Santo Antonio onde está o cemitério da Saudade. Sempre que por ali passava um cortejo fúnebre à porta do estabelecimento era fechado em reverência ao falecido.
Homem sábio, inteligente, honesto e desembaraçado em tudo quanto lhe dizia respeito. Foi promotor adjunto, vereador pela legenda do antigo PSD, católico praticante, apadrinhou centenas de crianças na pia batismal, merecedor do mais alto respeito e consideração em torno de si. Era ponto de referência para a correspondência entre pessoas que moravam em outros centros, como São Paulo, Rio, Mato Grosso e outras localidades para onde se deslocava aquela gente do município. As cartas e encomendas não vinham dirigidas através de “CAIXAS POSTAIS”, mas aos cuidados de ZÉ BITU, o que significava garantia. sucesso e urgência  na entrega.
Era portador de um brilhante senso de humor, todavia, não se dava ao hábito de contar anedotas corriqueiramente, limitando-se, isto sim. a  aparecer com repentes os mais  diversos e engraçados possíveis, quando menos se esperava.
“Em certa ocasião um de seus netos perguntou se era” verdade que a cobra só picava sua vítima quando estava com raiva, ao que ele respondeu: Não sei dizer. portanto, é melhor você não mexer com ela, pois nunca se sabe se está com raiva ou não!
Outra vez estava acontecendo enorme calor, semelhante ao de hoje e alguém lhe perguntou:  “Compadre isto será chuva e ele respondeu  com aquele seu leve sorriso no canto da boca. Eu acho mais parecido é com calor”.
Gostaria de ter diante de mim ainda hoje, o meu Velho Pai e o nosso Pompílio  Velho,  meus mestres de outrora de quem herdo  modestos conhecimentos gerais e a alegria de saber falar e escrever aLgumas coisas de proveito na vida.
Quem teve a felicidade de conhecer meu estimado Pai em seus tempos de existência sadia e gloriosa sabedoria, sabe muito bem reconhecer seus valores intelectuais e humorísticos que a tantos causou benefícios e muita alegria. Esposo, pai e amigo extremoso, possuidor de um coração puro que só amor tinha para dar.
Como é saudável escrever sobre ZEBITU, Senhor de tanto valor em todos os aspectos de vida. QUE DEUS o tenha em sua companhia com todos os méritos e a glória merecida.
A ele e  a Pompílio Velho dedico este escrito com  muito amor e admiração carregado de saudades,

João Bitu

( AO MEU SOBRINHO EDUARDO )







quinta-feira, 31 de março de 2016

191 DOCES LEMBRANÇAS DE MINHA TERRA



DOCES LEMBRANÇAS DE MINHA TERRA

“GUARDO como se fosse agora
Com bastante clareza ainda lembro
Era uma noite cálida de setembro
Assim pelas vinte e uma horas
Em quarenta e oito e,  muito embora
Eu já fosse quase um homem feito
Ao ouvir Maria Bethânia, com efeito,
Na voz plangente de Nelson Gonçalves
 ((Eu estava na Rua Major Joaquim Alves)
Pus-me a chorar não houve outro jeito” .

A família me mandara para a cidade, Várzea-Alegre é claro, a terra que amamos de todo coração e donde temos as melhores recordações, visto que hoje habitamos noutro lugar, embora apenas físicamente,  porquanto, em nossos pensamentos continuamos  residindo lá   o tempo todo. Os meus pais tinham o propósito de me oferecer boas escolas e esta era  a única forma de iniciar sem maiores dispêndios financeiros,  ao alcance de suas disponibilidade econômicas.
O passo inicial foi dado na escolinha de Dona Francisquiha de Romão, “Dona Caixinha”. que se casou com Antonio Alves Costa “Antonio Diô”,  A escolinha funcionava  em sua residência no turno da tarde.  No ano seguinte fui para a escola de Walquírio Correia, muito em evidência naquela época, cursando o terceiro ano primário. Ótima escola, o professor bastante eficiente e altamente brincalhão, sem  perder a autoridade  necessária à função. Tive ainda uma ligeira passagem pelo Grupo Escolar, hoje o Colégio Estadual José Correia, na antiga Rua Getúlio Vargas.
Walquírio Correia foi quem nos levou e matriculou para prestar exames de Admissão ao Ginásio no Co-
Légio Diocesano de Crato em fins de 1951. Obtive aprovação e no ano seguinte iniciaria o Curso Ginasial.
Várzea Alegre, todavia, foi e será o meu berço amado, nada me fará esquecer toda sua beleza natural e esplendorosa vivência em torno do que se criou com o dia a dia.
A ‘AMPLIFICADORA A VOZ DE VÁRZEA ALEGRE” era o que havia de mais bonito, útil e saudável na cidade
em termos de entretenimento  e alegria.,  A juventude ansiava pela hora em que se iniciavam os seus trabalhos noturnos com a inesquecível  valsa “BRANCA’,  que indicava a abertura de sua programação musical, anúncios de ocorrências natalícias e outros tantos acontecimentos sociais. As duas pracinhas existentes, a saber  - praça velha e  praça nova -recebiam em massa a mocidade  que  rodeava   em doce desfile  de beleza e  ansiedade em seus corações, ao ouvir as músicas tocadas na amplificadora sob  a direção  eficiente e alegre de Walquírio, sempre alegre e criador como costumava ser.
Eram músicas de alto gabarito e bom gosto, adquiridas a dedo por HAMILTON CORREIA em Fortaleza,
aquelas  que se destacavam nas paradas de sucesso, obras de compositores de valor e interpretadas igualmente por cantores em destaque.
Entre  tantas melodias inesquecíveis lembremos de “TARDE FRIA’ que ainda me dá um frio no coração, só em pensar, “A PÉROLA E O RUBI” que de fato era uma pérola, “MARIA BETHÂNIA”,  “PECADO  ORIGINAL, ”ROSA”, “SONHEI QUE TU ESTAVAS TÃO LINDA”.  Bom, é Impossível esquecer.
Vamos ficar por aqui para não dar vez às lágrimas que já me tocam o coração velho sofrido de tantas recordações.
A melodia abaixo me levou a caminhar aproximadamente 18 quilômetros de Várzea Alegre até as Carnaúbas para abraçar meus queridos velhos e amenizar um pouco as saudades.    
 Vejamos pelo menos a Letra da canção gravada por...

Nelson Gonçalves

Maria Bethânia tu és para mim a senhora do engenho
em sonhos te vejo
Maria Bethânia és tudo que eu tenho
quanta tristeza
sinto no peito
só em pensar
que o meu sonho está desfeito
Maria Bethânia te lembras ainda daquele São João
as minhas palavras caíram bem dentro do teu coração
tu me olhavas
com emoção
e sem querer
pus minha mão em tua mão
Maria Bethânia tu sentes saudade de tudo, bem sei
porém também sinto saudade do beijo que nunca te dei
beijo que vive
com esplendor
nos lábios meus
para aumentar a minha dor
Maria Bethânia eu nunca pensei acabar tudo assim
Maria Bethânia por Deus eu te peço tem pena de mim
hoje confesso
com dissabor
que não sabia
Nem conhecia o amor.

João Bitu






terça-feira, 1 de março de 2016

190 AS QUERMESSES





190             AS QUERMESSES

           Havia nas proximidades do Distrito de Canindezinho, município de Várzea-Alegre, entre as CARNAÚBAS e o AÇUDE das CARAÍBAS, seguindo a estrada velha, um pequeno povoado que teve a sua criação por iniciativa e direção do Senhor Miguel Marica, avô do poeta, cantor e compositor JOSÉ CLEMENTINO, cidadão muitíssimo conceituado  na região.
Na década de quarenta, foi erguida uma Capelinha muito bonita de onde as missas e as demais cerimônias religiosas passaram a ser celebradas em suas dependências, quando, anteriormente, ocorriam na residência daquele patriarca.
 Com a edificação da Igreja, Padre Otávio, batizou o local com o nome de ”MIGUELÓPOLES”, em homenagem ao seu fundador,  que significa cidade de MIGUEL.
                    Por ocasião dos festejos acorriam, muitas pessoas atraídas não somente pelas atividades religiosas, que eram dignas de muito respeito e apego, mas também, e, principalmente pela existência de comestíveis diversos e a apresentação de brinquedos infantis como reco-reco, colares de coco catolé, bolinhas plásticas de variadas cores e inúmeras outras maravilhas que encantavam os olhos da criançada.
                    O vigário de Várzea Alegre era o Padre José Otávio de Andrade, nascido em Bebedouro, na região dos Inhamuns, muito estimado, sem exceção por toda gente da comarca.
Tinha como assistente principal, João Batista (ou João de Seu Amadeu), um cidadão queridíssimo notadamente pelo seu alto senso de humor, por todos que o conheciam. Costumava fa-
zer presepadas, das mais interessantes possíveis e contar anedotas ao seu gênero.
                Nos festejos, eram criados dois partidos com o objetivo de angariar fundos para custeio das despesas, esses eram: O partido AZUL e o partido ENCARNADO, que davam motivação a uma
acirrada disputa que esquentava os ânimos de seus participantes.                                                                                            
                               De toda circunvizinhança, vinham fiéis cheios de fé e confiança buscando ativar e renovar seus propósitos e sua luta contra o pecado, pela assistência às cerimônias re-
ligiosas, pela confissão e pela comunhão por intermédio do  sacerdote aos pés de Santo Altar.
A Capela, toda enfeitada com flores e as imagens alegremente rodeadas de inscrições com dizeres cristãos davam a tonalidade fiel das comemorações. Era uma atração à parte. Lá fora, a alegria contagiava com o pipocar dos fogos de artifícios, bombas, estalos e gritos estridentes das crianças, gerando um majestoso espetáculo.             .
                                    Até de localidades mais distantes, as pessoas de todas idades vinham aos festejos para assistir as missas, rezar, confessar seus delitos e comungar diante do sacerdote.
Eis que em certa ocasião, como nos foi relatado pelo próprio sacristão, duas senhoras, já de idades bastante avançadas, chegaram para receber aqueles sacramentos da Igreja. Contudo, a cerimônia já havia terminado há algum tempo, o que as levou a lamentar e chorar copiosamente. Compadecido diante daquele triste malogro, João Batista, um homem solícito e caridoso, entretanto, não muito comprometido com os rígidos critérios da Santa Igreja, achou por bem contemplar as duas velhinhas sofridas com a realização da santa comunhão e o fez pessoalmente. Por alcançarem as suas aspirações, as respeitáveis Senhoras vibravam de contentamento e felicidade.

                                          O que não se sabe, entretanto, é qual teria sido a reação de Padre Otávio, ao tomar conhecimento daquele procedimento gratuito de nosso bem estimado e, prestativo Sacristão  -  João de Amadeu.

João Bitu