domingo, 10 de abril de 2016

194 O PILÃO




        194     O PILÃO

Em nossa residência no sítio Carnaúbas, de doce e inesquecível lembrança, havia bem ao centro da cozinha, milimetricamente fincado ao solo e de forma equidistante às quatro paredes de tijolo de adobe, um possante pilão de madeira adaptado de um tronco de árvore milenar, possivelmente de aroeira ou similar com a cavidade no miolo em forma de bacia.
A dita árvore, extraída convenientemente dentre outras tantas existentes no alto matagal das terras do Jaburu, no precioso sertão varzealegrense, transformou-se em utensílio doméstico de comprovada utilidade e resistiu por várias décadas, sucumbindo tão somente junto à demolição do casarão.
Era usado por mãos fortes e bem treinadas.
Semanalmente, as filhas de Pinino, falecido esposo de Antônia, Nazaré e Mundinha vinham da Lagoa de Dentro pilar arroz para o consumo de algumas semanas.  Essas três máquinas, de forma conjunta e numa cadência impressionante. Não havia naquela época as atuais máquinas de pilar contudo, elas faziam as vezes com absoluta precisão. Era tão preciso e eficiente o serviço que ao chegar ao término da operação, elas peneiravam o produto e dalí escapava apenas alguns caroços em casca que eram chamados “ESCOLHAS”, por elas mesmas cuidadosamente separadas e eliminadas.
Em verdade era um serviço ao qual se podia considerar “braçal”, mesmo assim, e o   mais curioso, é que a remuneração não excedia a uns míseros trocados, senão, uma rapadura e uns punhados de farinha. O suficiente mesmo era a “bóia”.
Tudo passou. As bravas meninas, acredito, já não existem mais, tenho minhas dúvidas, porquanto, há muitos anos estou afastado daquelas plagas que foram berço de minha saudável juventude e de lá quase não tenho notícias. Restam muitas saudades e doe-me a certeza de que poucas, muito poucas pessoas sobreviveram para comprovar as minhas lembranças.
Escrevo estas recordações para não deixar que tudo se vá com o tempo, como também, em busca de algum leitor que possa estar ao meu lado e compartilhar meus sentimentos.
Então, assim sendo, adeus meninas do pilão, adeus casarão, adeus restos daquele tronco de aroeira e da capoeira, onde nasceu, cresceu e emprestou utilidades em outras áreas diversas.

João Bitu





                              

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