terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

050 A FORÇA DE VONTADE



A FORÇA DE VONTADE


Era uma vez um garotinho feio

De aparência triste, semblante místico

Que a tudo olhava  de permeio

Acanhado de seu corpo  raquítico

Fugia...

 

Fugia e de si mesmo,  se escondia

Tão complexado chegava a ter medo

De tudo quanto em redor sucedia 

De qualquer coisa cismada em segredo,

Desconfiava...

 

E quanto mais alguém lhe incentivava

Mais lhe crescia o acabrunhamento

Em meio às pessoas se embrenhava        

 Preso sempre a um descontentamento

Absoluto...

 

Mas em tempo brotou um salvo-conduto

Uma ânsia intensa de liberdade

Carecia apenas coragem, contudo.

E por força de  boa vontade

Adquiriu...

 

Pouco a pouco venceu e se redimiu

Da timidez passou a ousadia

Da inércia e do medo ressurgiu

Destemido tornou-se no dia a dia

Audaz

 

Sem preconceitos tornou-se um  rapaz.

Na vida só interessa o que nos importa

Buscou em tempo tudo que se é capaz

Desfrutar todo bem que à alma conforta

Aprendeu...

 

Que um dia foi feio na vida esqueceu

Também minimizou o seu raquitismo

Que de início a si tanto mal ofereceu

Expondo-lhe sempre ao inconformismo

Total...

 

Graças à bondade do Pai celestial

Que a tudo assiste com amor sempiterno

Toda aquela fragilidade material

Transformou  só em vigor moderno

Cheio...

 

O tal garotinho triste, amargo e feio

Se alguém quer saber, por ventura, quem é

Cujo não via de frente senão de permeio,

Salvo por si, aqui está com toda sua fé,

EU,

 

João Bitu

052 ÁGUA FRESCA E UM BOM PETISTO



ÁGUA FRESCA E UM BOM PETISCO


Às vezes resgato em  minha lembrança

Praxes antigas e hábitos saudáveis

Tão simplórios e tão agradáveis

Que marcaram meus tempos de criança

Quando a existência era só bonança!...

Recordações que duram a vida inteira

Que trazem uma paz alvissareira.

Como beber a água bem friinha

Dormida dentro de uma quartinha

Toda ela colhida na goteira

                                                                         

 De barro era  a quartinha ou moringa.

Que mantinha o líquido bem fresquinho

Nem gelado e nem também morninho

Sem mau gosto e sem qualquer catinga

Seu sabor nos adoçava a língua...

Ingerida num copo de alumínio

Inibia-nos o autodomínio.

Consumindo-a em grande exagero,

Como quem está em ânsia e desespero

A ponto de por a saúde em declínio

                                                                         

 Também eram de barro as panelas

Obras de finíssimo artesanato

Feitas com o máximo aparato

Pelas louçeiras, no fabrico delas...

O quitute cozinhado nelas

Tinha um sabor bem mais gostoso

Era distintamente mais saboroso

Diferente do convencional

Nunca mais comi petisco igual

Saudável e tão  substancioso.

 

Ajunte-se a isto um bom tempero

A gosto de alguém que saiba fazê-lo

 É até de arrepiar cabelos

Só em pensar, sem qualquer exagero.

Um pouco só de pimenta de cheiro

Numa sopa de peixe acrescentado

Ou num bife de carne acebolado

É coisa de fazer enlouquecer

Em tempo algum iria esquecer

Tanto que estou já esfomeado.

 

Um gostoso baião de dois, mesclado

De arroz branco e feijão mulatinho

Lingüiça, carne de sol e toucinho

E um pernil de porco bem assado

Farofa, paçoca e queijo só tostado

E um chouriço como sobremesa

É a melhor pedida com certeza

Que se possa em verdade imaginar

Um banquete do mais fino paladar

-Memórias da mais intensa  grandeza.

 

João Bitu

 

055 PLANOS DE SAÚDE


PLANOS DE SAÚDE


Ao fazer análise mesmo passageira

Nos fatídicos planos de saúde

Ainda que, às vezes, a entidade ajude

É uma autêntica armadilha financeira...

Em razão duma qualquer asneira

Um exame sugere outro exame

O resultado gera mais um enxame

Não fica num procedimento só

É um verdadeiro efeito dominó

Que ao paciente só traz vexame.                                                                                                                                                                                              

Para um Laboratório fui conduzido

Tão somente buscar doença

Não quero fazer nenhuma ofensa

Mas é um hábito bem conhecido!

Vasculhar o corpo já tão sofrido

À procura de um mau incógnito.

Soou-me ali ao ouvido: “Oh Bitu"!

Atente bem para essa sua biópsia

Ela bem pode ser véspera da autópsia

Documento conclusivo do óbito!

 

João Bitu

056 A CASA DE BEBERIBE


A CASA DE BEBERIBE


Grato ao santo Pai que me fez assim

E a Cristo Jesus o nosso Salvador

De Deus filho amado e meu Senhor

E ao Espírito Santo que está em mim

-À Trindade Santa de amor sem fim.

Agradeço com amor neste momento

Por esta linda casa e em complemento

A minha saúde, a paz e a harmonia

Que têm sua benção como documento

                                                                         

Esta casa em Beberibe é de DEUS

ELE nos deu por posse vitalícia

Ninguém a toma é uma premícia

Fruto dos benignos poderes Seus...

Só a mim pertence e aos meus

E a quem mais Lhe convier enfim.

Seja bem aventurada sempre assim

Para ela esteja a Sua face voltada

Nossa casa é pelo Senhor abençoada

Para séculos e séculos sem fim.

 

João Bitu

057 UM HOMENM SEM EDUCAÇÃO


UM HOMEM SEM EDUCAÇÃO


Um sertanejo rude e ignorante                                              

Nascido na roça, sem nenhum estudo

Pele queimada sob sol causticante

Privado de alegria e de quase tudo

Levava vida sofrida e humilhante...

Sua família era seu único patrimônio.

A filha primeira de seu matrimônio

Era toda a esperança de ajuda

Com a enorme prole triste e desnuda

Pesando aos ombros de Seu Petrônio

                                                                                                      

Logo que a jovem alcançou maioridade

Foi instada a buscar trabalho noutra parte

Mesmo não tendo nenhuma arte

Partiu do amado sertão rumo à cidade

À caça de emprego  que por  vontade

Do velho Petrônio malvado e duro

Desse-lhes garantia e Porto Seguro.

Triste sina de púbere indefesa

Cai nas malhas insanas da vileza

Praticando sexo de modo impuro

 

Apesar de tudo ajunta algum dinheiro

Com o firme objetivo de ajudar o pai

Volta ao sertão e para o roçado vai

Com os parcos bens que ajuntou primeiro

Para entregar ao pai que mais que ligeiro

Convida seus parentes bem contente

E lhe indaga diante de toda gente

-O que fazias lá, qual tua profissão?

-Era “prostituta” Pai, não tive outra opção

O velho aí se irrita cruelmente!!!

 

 

Que vergonha tu me faz mulher ingrata

Então eu reúno toda a famia

Pra festejar a volta da minha fia             

Que me faz coisa tão insensata?

-Pai sofri  até juntar esta soma exata

De dez mil reais em procedimento escuso

Fui “prostituta”, mas a grana é para teu uso!

-Tu falaste “postrituta”?  Espera ai um instante!...

Escutei primeiro foi “potrestante”!

Pois ou raça nojenta e de meu abuso!...

 
João Bitu

059 MEUS PRIMEIROS DIAS EM VÁRZEA ALEGRE



MEUS PRIMEIROS DIAS EM VÁRZEA ALEGRE


 

“GUARDO como se tudo fosse agora

Com bastante clareza ainda lembro

Era uma noite cálida de setembro

Assim pelas vinte e uma horas

Em quarenta e oito e muito embora

Eu já fosse quase um homem feito

Ao ouvir Maria Bethânia, com efeito,

Na voz plangente de Nelson Gonçalves

 ((Estava na Rua Major Joaquim Alves)

Pus-me a chorar não houve outro jeito” .

 

               Nelson Gonçalves

 

Maria Bethânia tu és para mim a senhora do engenho
em sonhos te vejo
Maria Bethânia és tudo que eu tenho
quanta tristeza
sinto no peito
só em pensar
que o meu sonho está desfeito

Maria Bethânia te lembras ainda daquele São João
as minhas palavras caíram bem dentro do teu coração
tu me olhavas
com emoção
e sem querer
pus minha mão em tua mão

Maria Bethânia tu sentes saudade de tudo, bem sei
porém também sinto saudade do beijo que nunca te dei
beijo que vive
com esplendor
nos lábios meus
para aumentar a minha dor

Maria Bethânia eu nunca pensei acabar tudo assim
Maria Bethânia por Deus eu te peço tem pena de mim
hoje confesso
com dissabor
que não sabia
Nem conhecia o amor.

 

João Bitu

061 GOSTOSO REFRÃO



GOSTOSO REFRÃO -  Por João Bitu


 

Que a verdade fosse dita

Partisse donde partisse

Valia a mim que a escrita

Fielmente traduzisse:

-Água mole em pedra dura

Tanto bate até que fura-

Aí o Vicente disse...

 

Quando se usa um refrão

Quer seja em verso ou em prosa

Dá maior conotação,

Faz a frase mais briosa.

“Ai eu disse”, por exemplo:

Com maior força contemplo

Pois lá vem coisa gostosa!...

 

É prenúncio de sucesso

Cultura e sabedoria

Vitória sem retrocesso

Muito êxito e maestria

Quando vislumbro a frase

Intimamente eu quase

Desfaleço de alegria

 

Sai mensagem verdadeira

Sem ficção e ou enfeite:

É chá de erva cidreira

Média  café com leite

Bife com fritas ao molho

E salada com repolho

Mais ovos fritos no azeite.

 

Galinha à cabidela

Uma sopa de ervilha

Refeição à luz de vela

A um canto sem vigília

Uma boa companhia

Jovem, bela e esguia

Oh gente que maravilha

 

 

Foi  cheio de entusiasmo

De sonho e de ilusão

Pois tudo é só marasmo

Impelido pelo refrão.

Falei sem que pressentisse.

...AI O VICENTE DISSE:

Acorda e sai dessa JOÃO.

 

João Bitu